domingo, 27 de fevereiro de 2011

Um centauro que se vai

Conheci Moacyr Scliar aos 14 anos de idade, ao longo das aulas de português do professor Leonildo, em 1996. Confesso que na época não gostei do "Minha mãe não dorme enquanto eu não chegar", mas como era necessário, li. E mais, digo o porquê de não ter apreciado. Mal chegado à adolescência, ainda estava às voltas de video-games, futebol de botão - por incrível que possa parecer - e RPGs. Não soube compreender a importância de Scliar na literatura gaúcha, mesmo estando acostumado a ler Verissimo, os dois, tanto o pai quanto o filho, não percebi a genialidade de um texto simples e claro possa ter.
Infelizmente, esta primeira "má experiência" com os livros de Scliar me levaram a redescobrí-lo quase dez anos depois, já na faculdade. Hoje penso, mal-dizendo a minha própria ignorância, em um modo de recuperar este tempo perdido, este tempo sem "O Centauro" ou "A colina dos suspiros" ou ainda sem "Os leopardos de Kafka"... Mesmo a alcunha de imortal, reconhecida apenas em 2003, não o salvou do fim que todos ainda teremos. Perdemos mais que apenas um lugar na ABL. Perdemos Scliar...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O Uivo



Allen Ginsberg


Eu vi os expoentes de minha geração destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus,
arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca de uma dose violenta de qualquer coisa,
“hipsters” com cabeça de anjo ansiando pelo antigo contato celestial com o dínamo estrelado da maquinaria da noite, que pobres, esfarrapados e olheiras fundas, viajaram fumando sentados na sobrenatural escuridão dos miseráveis apartamentos sem água quente, flutuando sobre os tetos das cidades contemplando jazz,
que desnudaram seus cérebros ao céu sob o Elevado e viram anjos maometanos cambaleando iluminados nos telhados das casas de cômodos, que passaram por universidades com os olhos frios e radiantes
alucinando Arkansas e tragédias à luz de William Blake entre os estudiosos da guerra, que foram expulsos das universidades por serem loucos e publicarem odes obscenas nas janelas do crânio, que se refugiaram em quartos de paredes de pintura descasca da em roupa de baixo queimando seu dinheiro em cestas
de papel, escutando o Terror através da parede, que foram detidos em suas barbas públicas voltando por Laredo com um cinturão de marijuana para Nova York, que comeram fogo em hotéis mal-pintados ou beberam terebentina em Paradise Alley, morreram ou flagelaram seus torsos noite após noite com sonhos, com drogas, com pesadelos na vigília, álcool e caralhos e intermináveis orgias, incomparáveis ruas cegas sem saída de nuvem trêmula e clarão na mente pulando nos postes dos pólos de Canadá & Paterson, iluminando completamente o mundo imóvel do Tempo intermediário, solidez de Peiote dos corredores, aurora de fundo de quintal com verdes árvores de cemitério, porre de vinho nos telhados, fachadas de lojas de subúrbio na luz cintilante de neon do tráfego na corrida de cabeça feita do prazer, vibrações de sol e lua e árvore no ronco de crepúsculo de inverno de Brooklin, declamações entre latas de lixo e a suave soberana luz da mente, que se acorrentaram aos vagões do metrô para o infindável percurso do Battery ao sagrado Bronx de benzedrina até que o barulho das rodas e crianças os trouxesse de volta, trêmulos, a boca arrebentada e o despovoado deserto do cérebro esvaziado de qualquer brilho na lúgubre luz do Zôológico, que afundaram a noite toda na luz submarina de Bickford’s, voltaram à tona e passaram a tarde de cerveja choca no desolado Fugazzi’s escutando o matraquear da catástrofe na vitrola automática de hidrogênio, que falaram setenta e duas horas sem parar do parque ao apê ao bar ao hospital

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Como dizia o poeta...

Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não!!!

Vinícius de Moraes

sexta-feira, 27 de março de 2009

Agora sim minha avó morre de desgosto...

Dia desses estava caminhando (entende-se vagabundeando) pelas ruas e bairros de Porto Alegre quando vi, em frente a uma igreja, uma faixa – na verdade parecia mais um outdoor – um tanto peculiar: “proibida a entrada de pessoas perfeitas nesta igreja”. Tive naquele momento um resgate de memória. Aos 15 anos, na longínqua década de 1990, quando ainda gozava da gabardice e valentia que apenas os primeiros anos juvenis são capazes de nos proporcionar, criei uma teoria alternativa quanto à integridade de um semelhante: Jesus.
Não vou encher linhas com as precárias idéias de encadeamento genético e perfil psicológico que formulei na época, mas o resultado de tudo foi o questionamento das preferências sexuais de Jesus. Coisa de guri... Como na época estudava em um colégio católico, não preciso comentar a repercussão que teve minha lógica de pensamentos. Herói entre os colegas (a maioria, ao menos) e herege entre os professores, alcancei uma “popularidade” que nunca sonhei. Virei nome de equipe de gincana e até personagem de quadrinhos no jornal escolar. Longe de querer abafar a situação, ainda dei corda na tese. A inscrevi na feira de ciências.
Foi a gota d’água! Após uma apresentação sofrível, meus pais foram “convidados” a comparecer na escola. O pior não foi o mijaço (ou mijasso?) que levei do pai e da mãe (na verdade meu velho até achou graça), mas sim ouvir de um padre tão velho que poderia ser o tutor de Marcelino Champagnat, que é esse o resultado quando se dá conhecimento à qualquer pessoa. Resumo da missa: suspenso por três dias, excomungado e proibido de entrar na capela do colégio.
Hoje, 12 anos mais tarde, novamente sou barrado na frente de uma igreja. Agora sim minha avó morre de desgosto...

quinta-feira, 19 de março de 2009

Sim eu sei, sou um tratante

Sei que estou devendo algumas crônicas (prometi pra muita gente!), mas devem entender que meus dias estão "corridos" por causa da faculdade, dos textos (inúmeros, e cada um com 100 páginas ao menos) e dos livros... Mas garanto que na próxima semana relato uma situação extremamente engraçada que ocorreu comigo.

Abração!!!

segunda-feira, 9 de março de 2009

Mostra expõe dilemas pessoais de Charles Darwin

Chupado da Folha de São Paulo em 09/03/2009

Exposição no Museu de História Natural de Londres celebra os 200 anos de nascimento do naturalista britânico

Entre os destaques, estão amostras coletadas pelo próprio cientista, cartas e anotações feitas durante expedição e pesquisas

SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A LONDRES

"Se você tivesse uma ideia que escandalizaria a sociedade, você a guardaria para si?". Quem pergunta é um imenso cartaz com um Charles Darwin barbudo e envelhecido, fazendo sinal de silêncio com o dedo indicador sobre os lábios.
É ele quem apresenta a exposição "Darwin - Big Idea", em cartaz no Museu de História Natural de Londres até o dia 19 de abril (www.nhm.ac.uk/darwin). Trata-se do principal evento comemorativo do bicentenário do naturalista britânico, que nasceu em 12 de fevereiro de 1809. As celebrações vão até novembro, quando o clássico "A Origem das Espécies" (1859) completa 150 anos.
A mostra apoia-se no dilema moral e religioso que o cientista enfrentou antes de publicar sua polêmica teoria, a de que homens, plantas e animais mudam para adaptar-se às condições do ambiente ao longo dos tempos, por meio de um processo de seleção natural -hoje reconhecida como a mais revolucionária explicação científica sobre a evolução de seres vivos.
Vivendo numa sociedade conservadora, Darwin temeu por cerca de 20 anos divulgar seu achado, pois este desafiaria explicações religiosas sobre a existência humana.

Criminoso?
"É como confessar um crime", resumiu o que sentia em um de seus relatos. Muitos deles, em formato de cartas e anotações, estão dispostos no salão principal da exposição. Chamam a atenção, principalmente, pelo detalhismo de suas observações e pelo rigor metodológico a que se impunha.
Além de elucubrações e certezas, eles revelam também muitas dúvidas. Darwin se diz várias vezes despreparado para explicar certas coisas que via e tinha o anseio de ser auxiliado e iluminado por cientistas mais experientes do que ele.
Uma das principais preocupações da mostra é deixar claro que o processo de elaboração da teoria da evolução foi muito lento. A começar pelo mapa que explica, momento a momento, a viagem do HMS Beagle, expedição de observação da qual Darwin tomou parte e que, por cinco anos, percorreu vários cantos do mundo.
O naturalista ainda era muito jovem na ocasião da viagem -tinha apenas 22 anos-, e, a cada parada, foi fazendo descobertas. Entretanto, foi só depois de muito tempo, já tendo ele voltado para a Inglaterra e matutado muito entre as amostras trazidas, que os pedaços do quebra-cabeças encaixaram-se de forma definitiva.
Algumas dessas amostras, de insetos e de ossos, integram a exibição. Ao lado delas, um recurso interessante, réplicas que o público pode tocar -sucesso absoluto entre as crianças.

Vida pessoal
Durante a expedição, Darwin tentou diminuir a longa distância da família e dos amigos por meio de uma intensa correspondência. Entre as cartas expostas, está uma na qual lamenta que uma moça com quem flertara tinha se casado.
Após o regresso, Darwin uniu-se a uma prima (Emma Wedgwood), mudou-se para Kent e passou a ter uma vida bastante caseira e familiar. Estudava intensamente e escrevia num escritório acolhedor que aparece reproduzido numa das salas do museu londrino.
Além disso, sua atenção voltou-se também à frágil saúde de seus dez filhos e dele mesmo. A morte de Annie, uma das garotas, de apenas dez anos, deixou-o prostrado por muito tempo. Para alguns biógrafos, a tragédia teria sido definitiva para que Darwin deixasse de uma vez de acreditar em Deus.

segunda-feira, 2 de março de 2009

O dia em que os marcianos invadiram a Terra

Há quase 70 anos, uma "pegadinha" de Orson Welles transmitida por uma emissora de rádio, fazia a América tremer de medo.

O Halloween - a "Noite das Bruxas" - chegou um dia antes, em 1938, e de forma inesperada para os americanos, acostumados às inevitáveis brincadeiras do 31 de outubro. Na noite do dia 30, muitos dos seis milhões de ouvintes da rede CBS e suas filiadas levaram a sério o que ouviam pelas ondas do rádio: os marcianos estavam invadindo os Estados Unidos!

De acordo com os relatos da época, quem estava na zona rural correu desesperadamente para a cidade, e cruzou com quem estava na cidade e procurava refúgio no campo.

Os telefones das delegacias de polícia não paravam de tocar e os gritos de socorro ecoavam pelas ruas.

Foi o caso mais célebre de histeria coletiva da História, segundo um estudo publicado pelo professor Hadley Cantril, da Universidade de Princeton.

Os gritos, choros e preces desesperadas deram lugar aos risos e, em boa parte dos casos, às imprecações, quando se soube o que realmente estava acontecendo: tratava-se de uma adaptação radiofônica do livro "A Guerra dos Mundos", de H. G. Wells, feita por Orson Welles para o programa "Mercury Theatre On The Air", que havia estreado no dia 11 de setembro do mesmo ano e ia ao ar das 20 às 21 horas. Em sua tese, o professor Cantril atribuiu a reação popular a três causas: insegurança pessoal, insegurança econômica e insegurança política.

Naqueles tempos, a voz de Hitler já ecoava assustadoramente pela Europa e o rádio era o mais poderoso veículo de comunicação. Roosevelt fazia previsões otimistas em seus discursos, garantindo que o perigo da depressão econômica estava afastado.

O ventríloquo Edgard Bergen, pai da atriz Candice Bergen, fazia sucesso com as piadas contadas através de seu boneco Charlie McCarthy e os ouvintes se deliciavam com os clássicos de Toscanini e dançavam ao som de Benny Goodman.

No Brasil, Dorival Caymmi lançava seu sucesso "O Que é Que a Baiana Tem?" - que também invadiria os Estados Unidos mais tarde, na voz da "alienígena" Carmem Miranda.

A INVASÃO

No começo da transmissão, Welles se apresentara como um certo professor Pierson, "famoso astrônomo do Observatório de Princeton", e declarara pelo rádio, na forma de entrevista, que estava ocorrendo uma série de fenômenos na crosta do planeta Marte. Na verdade, a "entrevista" era tirada do livro "A Guerra dos Mundos", escrito em 1898 por H. G. Wells, mas o tom de seriedade fez com que muitos ouvintes achassem que tudo era verdade.

Na seqüência da transmissão, a emissora informou que um disco voador havia aterrissado numa pequena fazenda em Grovers Mill, Estado de Nova Jersey - perto de Nova York. Logo depois, informava em tom sensacionalista que outros discos teriam pousado em várias partes do país. A transmissão teve direito até ao pronunciamento de um hipotético secretário do Interior, "diretamente de Washington", admitindo a gravidade da situação e pedindo calma aos moradores.

Especialistas no estudo do comportamento humano comentaram em entrevistas aos jornais da época que "os ouvintes estão sempre prontos a acreditar no que uma autoridade oficial diz" e, por isso mesmo, o pânico foi generalizado. Para complicar ainda mais a situação, naquele momento os americanos temiam uma "invasão" de alemães ou chineses.

Depois do episódio, Welles tornou-se uma celebridade mundial e foi contratado por Hollywood para escrever, produzir, dirigir e atuar em filmes nos estúdios da RKO. Os artistas que participaram da famosa adaptação radiofônica foram chamados para integrar o elenco do antológico "Cidadão Kane", considerado um dos mais importantes filmes de todos os tempos.

Entre as inúmeras histórias sobre o trauma causado pela transmissão está a de vários cidadãos que tiveram de ser resgatados seis semanas depois por voluntários da Cruz Vermelha nas montanhas de Dakota, pois eles se recusavam a acreditar que tudo não passara de ficção. E uma ingênua operária mandou a seguinte carta a Orson Welles:"Quando aquelas coisas aconteceram, eu achei que o melhor a fazer era dar no pé. Então, peguei os 3,25 dólares que havia economizado e comprei uma passagem. Após ter viajado 16 milhas, ouvi dizer que era tudo uma peça. Agora estou sem o dinheiro e sem os sapatos que ia comprar com ele. O senhor poderia, por favor, mandar alguém me entregar um par de sapatos pretos, tamanho 9 B?"

SESSENTA MINUTOS DE MEDO

Eram oito horas da noite em Nova York quando o locutor anunciou, naquele 30 de outubro de 1938:

"A Columbia Broadcasting System e as emissoras filiadas apresentam Orson Welles e o Mercury Theatre On The Air, em A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells".

Ao fundo, o trecho de um concerto musical de Tchaikovsky.

Volta o locutor:

"Senhoras e senhores: o diretor do Mercury Theatre e o astro deste programa, Orson Welles!"

Welles toma a palavra: "Sabemos que desde os primeiros anos do século XX nosso mundo vem sendo observado meticulosamente por inteligências superiores às do homem, mas tão mortais quanto as dele. Sabemos que, enquanto os seres humanos ocupavam-se dos seus vários problemas, eram estudados tão minuciosamente quanto um homem que, munido de um microscópio, observasse as criaturas minúsculas que pululam e se multiplicam numa gota d'água. Com infinita complacência, o povo andou de um lado para outro sobre a terra, cuidando de seus afazeres, sereno na segurança do domínio que exerce sobre esse pequeno fragmento solar rodopiante que, por sorte ou desígnio, o homem herdou do negro mistério do tempo e do espaço. Entretanto, através do imenso e etéreo abismo, mentes que estão para as nossas, como estas estão para as dos animais selvagens, intelectos vastos mas frios e sem compaixão, contemplavam esta Terra com olhos cobiçosos, e fizeram seus planos contra nós".

O programa é interrompido por um locutor anunciando uma transmissão diretamente do Meridian Room do hotel Park Plaza, de Nova York, onde Ramon Raquello e sua orquestra tocavam "La Cumparsita". Minutos depois, outra interrupção, agora para a informação de que teriam ocorrido misteriosas explosões de gás incandescente no Planeta Marte. O "professor Pierson" começa, então, a dar sua "entrevista" sobre o estranho fenômeno até que o locutor faz novas interrupções para noticiar o aparecimento de discos voadores em diversas partes do país.

"Senhoras e senhores", dizia o locutor, num dos comunicados.

"Tenho uma grave declaração a fazer. Por incrível que pareça tanto as observações da ciência quanto a evidência diante de nossos olhos levam-nos à indiscutível conclusão de que esses estranhos seres que desceram esta noite sobre as fazendas de Nova Jersey são a vanguarda de um exército de invasores vindos do planeta Marte. A batalha em Grovers Mill resultou em uma das mais retumbantes derrotas sofridas por um exército nos tempos modernos. Sete mil homens armados com rifles e metralhadoras enfrentaram uma única máquina invasora de Marte. Apenas 120 sobreviveram. Os outros jazem na área da batalha."

NÃO DEVO OCULTAR A GRAVIDADE DA SITUAÇÃO...

A descrição continua com detalhes assustadores e a situação fica ainda mais tensa com o pronunciamento do "secretário do Interior", diretamente de Washington: "Cidadãos do meu país: não devo ocultar a gravidade da situação que nosso país atravessa, nem a preocupação do seu governo em proteger a vida e as propriedades do seu povo...".

Seguem-se relatos de novas batalhas, até o intervalo, quando o locutor informa: "Estão ouvindo uma apresentação da CBS do Mercury Theatre de Orson Welles, numa dramatização de A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells. O programa continuará após um breve intervalo. Aqui fala a Columbia Broadcasting System.."

A esta altura, porém, muitos ouvintes, já em pânico, nem ouviram a informação. A notícia já estava se espalhando. Na segunda parte do programa, o tal "professor Pierson" descreve o clima assustador.

"Alcancei a rua 14 e lá estava novamente o pó preto, vários cadáveres e um cheiro diabólico, pavoroso, exalando dos gradis dos porões de algumas das casas.."

A descrição continua até dar um salto de alguns anos mais tarde, agora com a vida de volta ao normal, as crianças brincando nas ruas, o povo tranqüilo. E Welles termina o programa:

This is Orson Welles, ladies and gentlemen, out of character to assure you that The War of The Worlds has no further significance than as the holiday offering it was intended to be. The Mercury Theatre's own radio version of dressing up in a sheet and jumping out of a bush and saying Boo! Starting now, we couldn't soap all your windows and steal all your garden gates by tomorrow night. . . so we did the best next thing. We annihilated the world before your very ears, and utterly destroyed the C. B. S. You will be relieved, I hope, to learn that we didn't mean it, and that both institutions are still open for business. So goodbye everybody, and remember the terrible lesson you learned tonight. That grinning, glowing, globular invader of your living room is an inhabitant of the pumpkin patch, and if your doorbell rings and nobody's there, that was no Martian. . .it's Hallowe'en.

"Aqui fala Orson Welles, senhoras e senhores, desligado do seu personagem para assegurar-lhes que 'A Guerra dos Mundos' não teve outro objetivo além de oferecer-lhes um bom divertimento para o domingo. Sua versão radiofônica vestiu um lençol branco e saiu de trás de uma moita fazendo um 'buuuu'. Aniquilamos o mundo diante de seus ouvidos e destruímos completamente a CBS. Espero que estejam aliviados por saberem que não tencionávamos isso e que ambas as instituições estão funcionando normalmente. De modo que, adeus a todos e lembrem-se, por favor, pelo dia de amanhã e pelo seguinte, da terrível lição que receberam esta noite. Este sorridente e globular invasor da sua sala de estar é um habitante do país das abóboras. Se baterem à sua porta e não houver ninguém lá, não é nenhum marciano... é Halloween.